
Não é de hoje que atletas de alto-rendimento correndo os 42,195 km de uma maratona encantam, não só a sociedade, mas pesquisadores e cientistas esportivos.
Tanto a fisiologia quanto a performance dessa elite já eram estudadas na década de 1970 por Costill, Pollock entre outros.
Em 1991, Joyner relatou em seu estudo sobre a base de fatores fisiológicos para uma ótima performance na maratona que tanto o VO2 Máximo, quanto o limiar de Lactato e a economia de corrida seriam partes de uma equação para um maratonista correr a distância abaixo de 2 horas.
Recentemente, Jones et al. (2020) publicaram os resultados decorrentes das avaliações feitas em 16 atletas de nível mundial durante o Breakin 2 da Nike em um artigo para o Journal of Applied Physiology no qual adicionam mais um fator a essa equação: a resistência a fadiga, ou melhor dizendo, a capacidade de continuar a correr em altas velocidades mesmo após a “parede” sem requerer um maior consumo de oxigênio.
Interessante que o grupo de atletas investigados apresentou um limiar de Lactato um pouco mais acima do que foi apresentado por Joyner levando a conclusão de que poderiam correr uma maratona abaixo de 2 horas com um VO2 Máximo elevado, mais não necessariamente, muito elevado.
Entre os 16 atletas de nível internacional, estavam o queniano Eliud Kipchoge – o único a correr a distância abaixo de 2 horas, o etíope Lelisa Desisa – bicampeão da Maratona de Boston e o recordista atual da meia-maratona – o iritreense Zersenay Tadese.
A média do grupo era de 29 anos de idade, 1,72 metros de altura, 58,9 kg de peso corporal com IMC de 19.9 e 7,9% do peso em gordura corporal, além de uma FC Máxima de 190 BPM.
Além disso, o tempo médio para meia-maratona era de 01:04h e 02:08:40 para maratona respectivamente, enquanto a média do VO2 Máximo foi de 71 ml/kg/min . Todos os 16 atletas utilizavam 88 por cento do seu máximo para correr num pace de uma maratona Sub2.
Já a média do comprimento da passada era exatamente equivalente a média da altura e a grande maioria corria sem usar o retropé com mais frequência.
Um outro dado importante, foi que os atletas participantes apresentaram um impulso vertical 18% menor de que outros maratonistas de nível e o tempo de contato com o pé com o solo – 0.16 segundos, similar aos achados entre outros atletas de elite (0.18 segundos naqueles que sustentam uma velocidade de 20,9km/h) que variou inversamente a economia de corrida sugerindo que tanto o ganho de aceleração horizontal quanto o tempo de contato com o solo poderiam contribuir positivamente com essa última.
Mas o que isso tudo quer dizer?
Assim como Billat (1999) havia afirmado em seu artigo, maratonistas de alto-desempenho a nível internacional realizam muito mais sessões de treino intervalados mais intensos de modo a sustentar uma maior velocidade ao longo de todo o percurso da prova do que outros maratonistas.
Um outro ponto levantado seria a hipótese de uma herança genética que garantiria a performance desses e de outros que ainda virão, quando aplicadas as metodologias de treinamento levando em consideração os pontos observados.
Certo é que não é só de treino longo e extensivo que um maratonista vencedor é feito.
Link para matéria publicada na Podium Runner: Burfoot, A. Breaking New Study Reveals Physiology of 16 Sub-2:09 Marathon Runners
Link para a postagem aqui no blog: Modelos de treinamento intervalado propostos por Billat
Referências:
- Andrew M. Jones, Brett S. Kirby, Ida E. Clark, Hannah M. Rice, Elizabeth Fulkerson, Lee J. Wylie, Daryl P. Wilkerson, Anni Vanhatalo, and Brad W. Wilkins. Physiological demands of running at 2-hour marathon race pace. Journal of Applied Physiology 0 0:0.
- Billat VL, Flechet B, Petit B, Muriaux G, Koralsztein JP. Interval training at VO2max: effects on aerobic performance and overtraining markers. Medicine & Science in Sports & Exercise 31(1): 156-63. February 1999.
- Fink WJ, Costill DL, Pollock ML. Submaximal and maximal working capacity of elite distance runners. Part II. Muscle fiber composition and enzyme activities. Annals of the New York Academy of Sciences. 1977 ;301:323-327. DOI: 10.1111/j.1749-6632.1977.tb38210.x.
- Joyner MJ. Modeling: optimal marathon performance on the basis of physiological factors. J Appl Physiol (1985). 1991 Feb;70(2):683-7. doi: 10.1152/jappl.1991.70.2.683. PMID: 2022559.
- Pollock, M.L. (1977), SUBMAXIMAL AND MAXIMAL WORKING CAPACITY OF ELITE DISTANCE RUNNERS. PART I: CARDIORESPIRATORY ASPECTS*. Annals of the New York Academy of Sciences, 301: 310-322. https://doi.org/10.1111/j.1749-6632.1977.tb38209.x